segunda-feira, junho 26, 2006

ALGUMAS OBSERVAÇÔES SOBRE AQUARELA, NAQUIM, PASTEL...

A Técnica é somente uma ferramenta, mas é imprescindível para o artista conhecer os materiais apropriados e os efeitos que é possível obter.

Estas técnicas requerem muito exercício e muita experiência para se chegar a um domínio.

Antes de iniciar o trabalho é importante preparar o material, (as tintas, pincéis, papel, esponjas, potes com água, panos,) fixar o papel na prancheta, e ter alguma idéia do que se quer fazer...


PAPÉIS
Papéis industrializados, para o desenho com pastel e aquarela ( algumas informações da Casa do desenho ):
Tiziano 160gr 50 x 65, branco, (media de preço R$8,05).
Mi-Teintes 160gr 50x65 azul, (R$ 5,08)
Arches 300gr 56x76 ( R$ 30,00)
Fabriano 300gr 70x100 ( R$ 18,00 – R$ 25,00 )
Ingres de cor;
Ingres Swedish Tumba
Fabiano Ingres ( nos pesos 90 e 160g – os melhores são os cinza médio e o pardo;
Canson Ingres em 24 cores

PINCÉIS
De acordo com a técnica, tamanho do desenho...:
Tigre, 307, 311 , 471 , 468, 261, 160...
Números: 02, 06, 12, 14, 16 ...

Usando a têmpera, a cor deverá ser clareada com água, não utilizando o branco, senão a cor fica opaca;
Alguns tópicos em relação às técnicas de nanquim, têmpera ou aquarela, no uso de aguadas e pinceladas secas:

Aguadas – sempre pinceladas rápidas, largas pintadas em papel levemente inclinado;
Pincelada- o uso de traços deixados pelo pincel; pinceladas largas com pincel grande e macio;
Refluxos –seqüências de aguadas antes que a primeira esteja completamente seca cria contornos indesejados, mas que se pode fazer uso deste recurso; Borrões – tinta pingada e escorrida; pode-se também borrifar a tinta, ou deitar pingos sobre o papel e em seguida soprá-los que podem ser usados para sugerir textura de árvores, flores, etc.
Degradé - é uma transição suave, gradual de uma cor
Cor fragmentada – efeito salpicado por pinceladas pequenas e superpostas
( impressionistas)
Desenho a pincel – desenhando com traços rápidos; pequenos; tinta seca
Bico-de-pena e aguada – desenho espontâneo sobre a aguada sem contornar as áreas coloridas
Cera e aguada – desenhar com lápis de cera ou com uma vela, e depois pincelar com aguadas
Mista – desenhar com carvão, tinta acrílica, lápis...
Sgrafito – raspar uma área pintada e seca, com uma lâmina ou faca
Pintura a esponja- uma esponja natural e pequena é ideal para sugerir texturas de árvores, folhagens...; esponja macia e levemente molhada e pode-se pintar utilizando também uma mascara

AQUARELA

A técnica de pintura em aquarela é baseada no sistema de pigmentação transparente, no suporte de papel branco como os importados D´Arches e Fabriano, Ingres, canson, entre outros.

Quanto à durabilidade da aquarela, depende da qualidade do papel e da tinta.
Só deve-se evitar o sol.

Tem o método úmido e o seco:

A técnica da aquarela pelo método úmido , o papel é mantido úmido durante uma hora ou preso na prancheta e molhado com pincel, na posição horizontal.
A técnica da aquarela a seco se caracteriza por se pintar primeiro, as partes escuras, (sombras) deixando as partes claras (luzes) em branco,. Esperar que seque totalmente para pintar as zonas mais claras.

A técnica da aquarela é difícil, é ligeira, leve e tem a possibilidade de mostrar o sentimento.

A maior parte dos artistas pintam o que sabem, não o que vêem.

O nu é o melhor para a aquarela, não precisa de fundo, pois o corpo humano é a própria composição, tem proporção.
1. A base é o nu.
2. Depois as flores – composição/fundo
3. Paisagem - + difícil , mistura de cores - mais complicadas.
4. O abstrato - um modo de ver -

O moderno tem um confronto complicado com a beleza pois a beleza não é necessariamente doce.
Não é belo pintar flores belas, mas flores fortes – interessantes – que atraem o observador.
Somos criaturas de hoje. Flores belas não é linguagem de hoje, são do séc XIX.
Procurar sua linguagem.
Dentro da natureza se pode ver o abstrato. É o mais difícil, pois não tem conteúdo.
São formas.
Não tem o impacto de uma figura.

A aquarela tem duas técnicas completamente diversas para se chegar à um bom resultado :
1. camadas – como na pintura a óleo-
2. pinceladas diretas – escolhe a cor e pinta – mais expressivas – pincel direto, sem correções.
Exige muita concentração.

É bom que se trabalhe com grandes pincéis, tipo de pintar parede e aqueles pinceis chineses, gordos e com a ponta afinando. Os pinceis nunca ficam mergulhados na água, para não perderem a goma e ficam guardados pendurados de cabeça para baixo.
Para pintar é melhor pegar no fim do cabo e com uma distancia boa.

As cores:
As tonalidades : duas cores-no máximo três cores – para conseguir toda a gramatura.
Branco e Preto – é bom e é ruim
Tem uma tinta branca transparente na aquarela
O preto ivory é mais transparente, mas as sombras na aquarela são dadas pela cor complementar.
Para o cinza se usam as cores complementares e não o preto- o preto deixa a cor estática –
O ocre quando seca perde a luz, por isso se mistura um pouco de amarelo.
As cores mais puras brilham mais.

Perceba a cor.
Não tenha medo da cor. Usando a cor complementar, uma ajuda à outra a brilhar. É melhor colocar mais pigmento, mais cor e depois limpar com água, do que o contrário, porque marca o papel e desvaloriza a aquarela.
O fundo tem que encostar na pintura, no motivo. Não deixar uma aura branca no entorno.

Procurar não pintar o fundo até o limite do papel e também de usar papel pequeno e de desenho que “cole” nos limites, pois estraga a composição.

Para iniciar a pintura é bom ter :
1. Dois pequenos baldes de água, um para limpar o pincel e outro para as tintas.Copos são muito pequenos e sujam a tinta.
Dois panos e papel
3. As tintas misturadas antes e depois pintar com a cor certa.
4.Ter um papel de aquarela de teste da cor antes de por no papel
5. Um prato grande de plástico branco (tipo de bolo) ou umas bandejas de isopor, para ver a cor que se vai pintar.

Observar, observar, observar.

Não ter controle – coragem para sentir- escutar o que as flores dizem.

Ter contato com a flor ( ou com o modelo), ser a flor para poder pintar a flor.
Fidelidade à cor, à sombra e à forma.
Cuidar da composição.

Se estiver muito escura a cor, passe uma esponja com água para limpar e buscar a luz.
Fazer os talos das flores mais grossos, mais fortes para sustentar a cor da flor.
Quando a tinta seca ela perde 30% da cor.

O importante é desenvolver a experiência. Superar os bloqueios. Autoterapia.
Na aquarela se é mais livre.
A transparência vem da cor certa. Não ficar pintando por cima. Antes você tem que decidir o que quer.
O olhar ajuda muito a concentração.
O branco é difícil
Uma boa aquarela é aquela que tem:
1. Contraste – entre claro/escuro, quente/frio,límpido/opaco.
2. Espontaneidade.
3. Pincelada extremamente boa.
A natureza é muito maior que a nossa fantasia,por isso observar.

A aquarela tem que fluir como um rio, deixar as emoções fluírem, senão a água vira um lago.
Procurar o seu caminho.
Uma aquarela expressiva se faz com cores fortes.
A linguagem do pincel se faz com cores fortes.

PASTEL
Trabalhar com o papel na vertical, para o excesso de pó cair.
Sacudir bem o trabalho para tirar o que sobrou.
Trabalhar com papel colorido;
De preferência não passar fixador.
Emoldurar com um paspatout e com vidro.

O Pastel podem ser macios, médio ou duros.
O papel tem vários graus de asperezas – quase todos de texturas podem ser utilizados . O fibroso é mais adequado, para trabalhos livres, enérgicos e texturados.
Toques grandes e livres.
Várias camadas
Esmagar bastões e esfregar com os dedos, uso de esfuminhos



BIBLIOGRAFIA:

  • O grande livro da aquarela – Guia completo das técnicas de aquarela, guache e tinta acrílica, com indicações de pincéis mais adequados e temas para exercício
  • Phillip hallawell – Companhia Melhoramentos, 1996.
  • Manual do Artista – Ralph Mayer –
  • Algumas informações da professora Edda Mally - 28 anos que ensina aquarela

segunda-feira, junho 19, 2006

Uma leitura sobre “Moça com brinco de Pérola”


O livro de Tracy Chevalier é um romance, ficção sobre a vida de Johannes Vermeer, pintor holandês do século XVII. A narrativa trata da relação de Griet, uma empregada da família, com o pintor. Dentro do cotidiano de uma familia católica de uma cidade holandesa(onde a maioria era protestante) surge uma estranha relação de Griet com seu patrão, de admiração e temor entre ambos.
A jovem empregada, filha de um azulejista, tem noções de arte e cores e isto a torna muito especial aos olhos do pintor. O livro não mostra muito o pintor, pis pouco se sabe da verdadeira vida dele, a personagem Griet é a base para reconstrução da época.

Sobre a educação visual da narradora(Griet)
No começo do livro temos a seguinte passagem:
“- Vejo que separou os brancos – disse ele, indicando os nabos e cebolas. – Depois, o laranja e o roxo não estão juntos: por quê? – Pegou uma tira de repolho e uma rodela de cenoura e misturou-os como dados na mão.
Olhei para minha mãe, que concordou discretamente num gesto de cabeça.
- As cores brigam qunado ficam lado a lado, senhor.
Ele franziu o cenho, como se não esperasse aquela resposta.”

Há dois aspectos a observar, sendo a família Vermeer mais abastada que a de Griet há uma delicada maneira ao responder a pergunta; e a outra pode parecer banal mas poucas pessoas prestam atenção à maneira como as cores dos alimentos são colocados no momento do preparo mas na estória ilustra muito bem que a moça tinha uma clara noção de hierarquia e composição de cores. Em certo ponto, Griet compreende que a luz da janela mudaria o aspecto do quarto de pintura, coisa que uma pessoa leiga como a esposa do pintor não conseguia entender. Apesar de uma educação simples, Griet sabia descrever com riqueza de detalhes e com uma compreensão das sensações que a pintura poderia transmitir. Aos poucos, Griet aprende o método de trabalho e descobre as ferramentas de pintura, como a caixa (câmara escura), a bexiga de porco, os pigmentos e óleo de linhaça. Não se explica de onde vem, mas esta educação que ela tem também se revelará mais adiante. Acaba influenciando a pintura de Vermeer, neste ponto ela diz:
“Achei que a cena estava muito limpa. Embora eu considerasse a limpeza a coisa mais importante de tudo, vi nos outros quadros que precisava haver alguma desordem na mesa, alguma coisa para distrair os olhos.”
Sua ansiedade aumenta a cada pincelada feita pelo pintor sem que ele tivesse feito a mudança que ela queria ( o que ela não explica diretamente para Vermeer) . Até que uma noite Griet altera a cena. Vermeer entende e segue a sugestão, mesmo respeitando a habilidade e a percepção ele a questiona:
“- Griet, diga uma coisa: por que você mudou a toalha da mesa? – O tom de sua voz era o mesmo de quando perguntou dos legumes, na casa de meus pais.
Pensei um instante. – Precisa ter alguma desordem na cena para contrastar com a tranquilidade dela –expliquei. – Para incomodar a vista e, ao mesmo tempo, agradar, pois a toalha e o braço estão na mesma posição.
Houve um longo silêncio. Ele estava olhando para a mesa. Espere, passando as mãos no avental.
- Nunca pensei que fosse aprender alguma coisa com uma criada – admitiu ele.”

Além da câmara escura, o pintor ensina a Griet como observar além das aparências, ao observar as nuances de cores das nuvens, ao observar a pintura panorâmica de Delft e assim ele consegue rapidamente fazer com que ela compreendesse como eram as etapas de elaboração da pintura, necessário para saber manipular os pigmentos

Sobre o ato de olhar
“- O que é uma imagem, senhor? Não conheço essa palavra.
Alguma coisa mudou no rosto dele como se antes estivesse me olhando por cima do ombro e de repente me olhasse de frente. – É um retrato, como um quadro.”
Estamos tão acostumados com imagens de todos os tipos desde crianças mas nem sempre se compreende o porque e qual a razão para estas. A pergunta que Griet faz é que ela não compreende que na câmara escura está apenas o reflexo do ambiente. Demonstra como um conjunto de signos pode ser deslocado de sua fonte original e passar a ter outros valores. No romance podemos ver esse deslocamento no quadro que inspira o livro, o brinco de pérola da mulher de Vermeer torna-se o pivô de uma crise entre os personagens. Ao ser usado pela criada o brinco passa a representar o amor ou veneração que ambos (Griet e Vermeer) teriam um pelo outro.


Referência:

CHEVALIER, Tracy; trad. de Beatriz Horta. “Moça com brinco de Pérola” 8ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrando Brasil, 2005

GUEDES, Peonia Viana. Quando a arte, a história e a ficção se misturam:
os discursos e intertextos de A moça com brinco de pérola. Acessado em: http://paginas.terra.com.br/arte/dubitoergosum/convidado28.htm em maio de 2006.