segunda-feira, julho 24, 2006

Aos que acreditam que a montanha é mais do que uma imensa pradaria verde...

“...Olha, eu dei muitas voltas à questão, e sabe o que concluí? É que cada um têm a sua montanha. Cada um têm o seu desafio pessoal, suas metas, pode ser no jornalismo, na medicina, pode ser querer trabalhar na NASA ou querer ser o melhor açougueiro do bairro, a diferença não interessa, cada um têm o cume que almeja. E outras vezes têm medo de não passar no vestibular, e pensar que outro vai lhe tirar sua oportunidade. E isto é válido para capitalistas e para socialistas: indiferentemente de seus interesses, de suas metas, todos temos nossos medos, nossas angústias pessoais, nossas contradições, coisas contra as quais combatemos.
(a burguesia) também têm as suas montanhas. E os poetas têm as suas, e as donas de casa, e os motoristas, e os universitários; um Presidente é alguém que ascendeu a sua montanha, mas alguém que sonhava fazer o poema que fez, também chegou lá.
É por isso que a montanha é algo mais do que uma imensa pradaria verde. È o desafio pessoal....”
Omar Cabezas -1986, Comandante revolucionário e poeta Nicaragüense

Camaradas:
há um ano, escrevi um pequeno texto sobre este dia que o calendário marca como “do amigo”. Um ano passou, e hoje, quando fui dedilhar alguma pequena crônica, vieram à memória os tantos bons amigos que já cunhei nesta frutífera vida. E isso é muito bom. Nomeá-los a todos em uma outra crônica foi um exercício de saudade, foi como sentar à mesa a tomar um vinho ou amanhecer em alguma estrada, pedindo carona, com um chimarrão e um pacote de bolachas, e um bando de sonhadores prontos para pular na caixa de um caminhão velho ou de um trem...
Mais do que isso, chegar quase aos quarenta e poder somar tantas lembranças, não é só fruto do passar do tempo. É fruto de ter vivido intensamente, e de ter conhecido gente que assim também escolheu viver. Gente que não se contentou com ver o que todos viam, que não se contentou em aceitar as coisas como eram, que não se contentou em ser “um mais na parede”.
Por isso este texto é para celebrar nossa amizade, essa que está começando a cada dia, mesmo que às vezes a gente pareça tão diferente... e o seja de verdade!!!
Nos une a capacidade de não aceitar as coisas como são, e de ver que o que está na nossa frente, podemos mudá-lo, nem que seja para que passe uma fresta de sol. Essa capacidade que nos faz ser a todos, nem que seja na frente do espelho, um pouco rebeldes e incomodados com a mesmice. Essa atitude que nos faz desafiar às convenções, por que não fomos feitos para elas, e, se o fomos, desistimos delas por opção própria.
Nos une a vontade de viver apaixonadamente, mesmo que isso não seja assim uma receita de sucesso.
Paixão pelos nossos rabiscos e projetos, paixão pelos nossos sonhos, esses que transformamos no papel, na tela, na argila, no cimento, no computador. Que nem sempre são um caminho para a bienal ou a galeria, mas com certeza são um espelho de nós mesmos.
Paixão pelas nossas paixões, essas que às vezes nem sabem de que nos nossos olhos aguardamos diariamente um sinal... para avançar o sinal. Ou as outras, as que foram mais do que platônicas relações e se estragaram no meio do caminho, mas que guardamos por que são partes de nós mesmos. Ou as que estão sendo hoje, e nos fazem acordar no meio da noite, lúcidos e felizes.
Paixão por um bom blues na madrugada, paixão pelo vinho bem acompanhado, paixão pelos amanheceres e os pôr de sol no meio da mata ou à beira da praia.
Paixão pelos nossos amigos, os antigos e os novos, os de ideais ou os do bar, os que festejam ou os que estão ali quando é necessário. OS que falam e os que calam, por que sabem do que poderá ser feita a nossa felicidade. Os que nos contagiam sua alegria ou nos entristecem com suas mágoas, mas que em definitiva, fazem a diferença.
Pode parecer piegas, mas não é com certeza. Piegas e careta é querer sem se envolver, é estudar sem crer, é fazer por fazer, é ir por ir, é estar em algum lugar por obrigação. É cortar o cabelo por status. Ou deixar crescer por que é moda.
Vivemos outros tempos, é verdade. Dizem os profetas dos livros de auto ajuda que “todos podemos ser campeões”, mas não falam onde ficarão os que não possam sê-lo; afirmam os políticos que agora é tempo de inclusão social, mas se esquecem de falar da inclusão cultural, que é a que dignifica de verdade; dizem que consumir é necessário e saudável, mas se esquecem de falar de tanta depressão acumulada, de tantas solidões de gente jovem, para a qual apenas oferecem pastilhas contra a ansiedade, terapias e manuais sem respostas de verdade.
Mas sempre será tempo de ter amigos, de ter sonhos, de ter paixões, de correr atrás de um milhar de projetos, de escrever cartas, de tomar vinho, de partilhar um chimarrão, de se emocionar com um filme ou de se indignar com a pobreza ali na rua ou as bombas que caem em algum lugar.
Mesmo atrasado recebam este mail como um abraço de quem crê que nem sempre as montanhas que temos na nossa frente são tão imensas quanto parecem, mais do que nada se juntos, podemos descobrir que não são “uma imensa pradaria verde”
Alejandro


“Já voamos a favor do vento,
já nadamos contra a correnteza,
mas nada disso foi suficiente;
disso temos certeza”...
Camisa de Vênus


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