Correta observação. A primeira função de um estudante de arte é observar, estudar a natureza. A tarefa do artista no seu início não é diferente da tarefa do escritor. Ele primeiro busca o material crú. Ele deve passar muito tempo fazendo contato com objetos reais.
Aprender a desenhar é na verdade aprender a ver – a ver corretamente – e isso significa muito mais do que meramente ver (olhar) com o olho. O tipo de ver que me refiro é a observação que utiliza o maior número de sentidos que se pode alcançar através do olho. Apesar de você utilizar seus olhos, , você não “fecha” seus outros sentidos – ao contrário, porquê todos os sentidos participam do tipo de observação que você está realizando.
Por exemplo, você conhece o uma lixa (sandpaper) pela sensação que tem quando a toca. Um gambá mais pelo cheiro e uma laranja pelo gosto.
Você reconhece a diferença entre a flauta e o violino pelo seu timbre quando ouve pelo rádio sem nem vê-los.
Porquê pinturas são feitas para serem vistas, muita ênfase (e muita dependência) é imposta sobre o “ver”. Na verdade vemos “através” dos olhos do que “com” eles.É necessário “atestar” tudo o que você vê com o que você pode experimentar com os outros sentidos – ouvindo, degustando, cheirando e tocando – e com a sua experiência acumulada. Se você utiliza apenas os olhos eles podem na verdade enganar você.
Eu acho que você concordaria que isto é verdade se você imaginar que um homem de Marte ou de um planeta completamente diferente do nosso está olhando pela primeira vez uma painsagem na terra na sua aterrisagem na Terra.Ele vê o mesmo que você, mas não sabe o que você sabe. Quando ele vê um quadrado branco na distância, você reconhece uma casa com quatro paredes, que tem aposentos e pessoas. O barulho dos corvos lhe informa que existe um milharal atrás da casa. Sua boca saliva à visão de caquizeiros enquanto para ele poderia parecer uma pedra.
Se você e o homem de Marte sentassem lado a lado para desenhar, os resultados seriam completamente diferentes.Ele iria tentar desenhar as coisas estranhas que ele vê da melhor forma que pudesse, nos termos das coisas que seus sentidos conheceram durante a sua vida em Marte. Você, conscientemente ou não, desenharia o que você vê a partir de sua experiência com coisas similares da Terra. Os resultados seriam inteligíveis somente enquanto as experiências fôssem similares. Mas se ambos sairem e começarem a explorar a paisagem a pá, tocando cada objeto, inalando cada odor ambos alcançariam resultados mais próximos do que existe.
Um homem normalmente consegue desenhar as coisas que ele conhece melhor, sendo um artista ou não. Um jogador de golfe pode desenhar um taco de golfe, um iatista pode fazer um desenho inteligível do barco. São coisas com que tiveram uma experiência real, coisas tocadas e usadas. Muitas outras coisas que ele vê frequantemente, mas não utiliza, nem chegaria a tentar desenhar.
O Senso do Toque. Meramente ver, então, não é suficiente. É necessário ter um contato físico, vívido com o objeto que se desenha com o maior número de sentidos possíveis – e especialmente pelo sentido do tato.
Nosso entendimento do que vemos é baseado em larga extensão no toque. Especialistas em propaganda perceberam este fato e colocam amostras do objeto em lojas para que as pessoas possam tocá-los. Se você fecha os olhos e alguém põe um objeto em sua mão, você poderá advinhar o que é sem abrir os olhos. Você provavelmente consegue desenhar pelo tato sem ver o objeto. Quando você entra em uma sala escura para pegar um livro sobre a mesa não traz de volta o vaso, mesmo que esteja ao lado.
Lí recentemente sobre uma garota que recuperou o sentido da visão depois de uma vida inteira cega. Enquanto era cega, conseguia se mover pela sua casa sem problemas. Quando começou a ver, não conseguia andar pela sala sem esbarrar nos móveis. Sua dificuldade vinha do fato de que não conseguia ainda coordenar o novo sentido da visão com o que tinha aprendido anteriormente pelo sentido do toque.
O primeiro exercício, que você está prestes a iniciar, é planejado conscientemente para trazer à baila o sentido do tato e coordená-lo com o de visão com a finalidade de desenhar.
Veja a borda da sua cadeira. Agora passe o seu dedo por ela várias vezes, algumas vezes devagar, outras rapidamente. Compare a idéia da borda alcançada pela sensação de toque de seus dedos com a idéia que voce tinha apenas olhando para ela. Neste exercício você irá tentar combinar estas duas experiências – aquela do toque com a do simplesmente ver.
Exercício I : Desenho de Contorno
Sente próximo ao objeto ou modelo que você vai desenhar e direcione a sua cadeira até ele. Foque seus olhos em algum ponto ao longo do modelo, qualquer um. Encoste a ponta do lápis no papel. Imagine que a ponta do lápis está tocando o modelo ao invés do papel. Sem tirar os olhos do modelo espere até que você esteja convencido de que o lápis está tocando o modelo onde seus olhos estão pousados. Então mova seus olhos lentamente pelo contorno do modelo e mova o lápis lentamente sobre o papel. Enquanto faz isso, mantenha-se convencido de que a ponta do lápis está tocando o contorno. Guiando-se mais pelo tato do que pela visão. Isto significa que você deve desenhar sem olhar o papel, olhando continuamente para o modelo.
Coordene exatamente o lápis com o olho. O olho ficará tentado a mover-se mais rapidamente que o lápis, mas não o deixe ir adiante. Considere apenas o ponto que voce está trabalhando no momento, sem se importar com nenhuma outra parte da figura.
Algumas vezes você perceberá que o contorno que você está desenhando deixa a borda da figura, desaparecendo. Quando isto acontecer olhe rapidamente para o desenho para localizar o ponto para reiniciar. Este novo ponto deve ser escolhido em algum ponto da borda quando o contorneo virou para dentro. Consequantemente você olhará para o papel algumas vezes durante o exercício, mas sem desenhar. Ao recomeçar, pouse a ponta do lápis no papel, fixe os olhos no modelo e espera até estar convencido de que o lápis está tocando o modelo, antes de desenhar. Nem todos os contornos estão na borda exterior da figura. Por exemplo, se você tem a visão frontal da face, você verá contornos definidos ao longo do nariz e da boca que não tem conexões com a borda. Tanto quanto o tempo de estudo permitir, tente desenhar estes “contornos internos” exatamente da mesma forma que os externos. Desenhe tudo que o seu lápis possa descansar e ser guiado. DESENVOLVA A CONVICÇÃO ABSOLUTA DE QUE VOCÊ ESTÁ TOCANDO O MODELO.
Este exercício deve ser realizado lentamente, sensitivamente, explorando. Use o tempo. Não seja impaciente ou muito rápido. Não existe sentido em terminar nenhum estudo de contorno. Na verdade, um estudo de contorno não é uma coisa que possa ser terminada. É um tipo de experiência específica, que pode continuar tanto quanto voce tiver paciência para olhar. Se no tempo disponíveo você chegar a apenas metade da figura, não importa. Muito melhor! Mas se você terminar muito cedo, existem sérias chances de que você esteja encarando o exercício erradamente.Um desenho de contorno é como subir uma montanha, comparado com passar por cima dela de avião. Não é uma olhada na montanha a distância, mas uma lenta, sofrida subida, passo a passo.
Não se preocupe com as proporções da figura. Este problema tomará conta de si mesmo com o tempo. E não seja guiado pelas sombras. Quando você toca a figura você sente o mesmo estando a parte na luz ou na sombra. Seu lápis se move não pela borda da sombra, mas pela borda real da forma.
No início, não importa o quanto você tente, você poderá achar difícil quebrar o hábito de olhar para o papel enquanto desenha. Você pode até olhar sem perceber. Peça a um amigo para avisar cada vez que você olhar para o papel. Você descobrirá se estiver olhando frequentemente ou cometendo o erro de desenhar enquanto olha.
Este exercício deve ser usado para desenhar objetos de todos os tipos. No início, escolha os contornos da paisagem que parecem mais tangíveis, como a curva de um mirro ou um tronco de árvore. Qualquer objeto pode ser usado, apesar de que os objetos naturais ou que foram utilizados por muito tempo podem oferecer a maior variação, como uma flor, uma pedra, fruta ou um sapato velho. Desenhe a sí mesmo olhando para o espelho. Sua própria perna ou pé. É a experiência, não o sujeito, que é importante.
O Caminho Natural para Desenhar (The Natural Way to Draw)
Kimon Nicolaides (1891-1938).
Pintor e Professor Americano. “Segundo Pai” dos seus alunos na Liga dos Estudantes de Arte de Nova Yorke (segundo artigo de revista de arte da época, Art Digest).
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