terça-feira, junho 09, 2009

Teoria e Crítica - Questão 1

Se considerarmos a crítica de arte como um ramo autônomo, como ela o é de fato, talvez não se possa falar em consenso estético como uma elucidação comum, porque isso seria reduzir a crítica a um saber auxiliar à arte, assim descaracterizando-a. Isso é especificamente complicado no Brasil, dada a dificuldade em inserir a obra em um contexto que já é naturalmente complexo (por aliar elementos os mais diversos, tais como constitutivos (modalidades) e temporais (épocas, fases), entre tantos outros em menor ou maior intensidade), situação visível nas tentativas de depurar e assentar o impacto que certos trabalhos individuais causam.
Por outro lado não se pode negar que haja certas convenções e opções que se estabelecem não somente no cenário contemporâneo como – e principalmente – no histórico. Mas seria exagero associar isso a um belo kantiano ou mesmo ao tratamento analítico dos elementos próprios da arte, uma vez que isso já é insuficiente, como pode representar a falência do modernismo enquanto elemento diretor de genuinidade artística.
Ao pensar em boa e má pintura, Ronaldo Brito fala em (2005, p. 227) “coerência intuitiva integral”, que, embora talvez eu tenha abusado de certa liberdade ao recortar tal termo de seu contexto, parece-me significar que já não é possível estabelecer métodos, padrões ou o que o valha num âmbito que não seja um menor e mais específico, ora o trabalho em si, ora o artista, ambos logicamente relacionados entre si e fatalmente com o resto, entendendo “resto” em suas variadas dimensões (a produção contemporânea, a sociedade, a humanidade). Pois é impossível (e cada vez mais) isolar a atividade artística. Embora esta afirmação entrelace o trabalho a algo maior, paradoxalmente dá a ele a possibilidade de criar suas próprias regras.
Assim, o consenso estético talvez resida no nível de relacionamento: é uma questão de linguagem. Grosso modo: é como falar a mesma língua, mas não por isso deixar de preservar sua posição em relação ao que é falado, ou seja, usar diferentemente esta linguagem comum. A incógnita sobre o objeto, a tensão de toda a grande arte (como diz Brito, 2005, p. 225) deve sempre permanecer (De Duve), embora se devam traçar caminhos interpretativos e conceituais em direção de ida e de volta e em volta de tal objeto.

João Grando

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